Cavalo destro e canhoto?

Por: Luis Fernando Monzon

Aprender sobre a dinâmica do cavalo, sua anatomia e simetria, pode ajudá-lo a compreender possíveis dificuldades em um percurso.

O General L’Lotte, grande equitador francês, preocupava-se muito com as diferenças evidentes entre um lado e outro de seus cavalos. Por números gerados nas inspeções veterinárias de sua tropa, chegou à conclusão de que cerca de 70% das fraturas, ovas (sinovites), linfangites e esparavões, se apresentavam nos membros esquerdos dos animais. Para ele, prova de que os cavalos têm o lado esquerdo mais fraco e, por observação do equilíbrio dinâmico, mais sobrecarregado no trabalho montado.

Uma das razões sugeridas por ele para esta questão era a de que “o feto no ventre da égua está geralmente dobrado à esquerda, com sua cabeça tocando a espádua do mesmo lado”. Isto faz com que os cavalos tenham o lado direito maior, mais forte – por desde cedo carregar a maior parte de seu peso corporal e ter mais facilidade em fazer curvas e “defesas” para o lado esquerdo. Para reduzir o tempo de apoio dos membros esquerdos no solo, os cavalos “destros”, ou seja, a maioria esmagadora deles e que têm o lado direito mais forte e hábil, precipitam o pousar dos membros do lado direito. Isto faz com que o avançar destes últimos sejam mais curtos e rápidos. A este estudo de “defeitos de simetria” do cavalo se dá pouca importância, tratando-se muitas vezes de tentar a correção pelo efeito e não por suas causas.

Evidenciando a tendência natural de manter a parte anterior do pescoço em inflexão à esquerda, os cavaleiros sentem as seguintes dificuldades: o cavalo resiste às ações da rédea direita e se esquiva do apoio no lado esquerdo, dando a falsa impressão de “ceder” com muita facilidade deste lado, mas não confirma o apoio; ao passo, a perna direita parece ser levantada pela massa do ventre, enquanto a perna esquerda parece se aprofundar no costado e no galope à mão direita (e no pé direito) a garupa parece desgarrar do eixo da curva, afastando-se lateralmente para o lado de fora. Isto só como exemplo, pois as evidências são muito mais amplas e visíveis quando observamos os cavalos num percurso de obstáculos, principalmente depois de cansados, ou no terço final do traçado.

As formas de corrigir os “defeitos e simetria” num atleta não voluntário e irracional devem ser sutis e delicadas. Não se esqueçam de que também somos assimétricos, nós cavaleiros e amazonas, com a tendência de agir mais intensamente com os membros direitos, o que pode gerar mais reação e não cooperação! Os nossos defeitos não devem se reunir aos do cavalo, o que desafortunadamente se observa com grande frequência. Deve-se, portanto, observar e identificar os pormenores de nossos animais e, com o vigiar atento e a consultoria de um grande mestre de equitação, desenvolver um trabalho técnico e dedicado para a busca da solução. Ela é a razão de sucesso dos grandes competidores e a escarpa a ser dominada pelos iniciantes. “O homem de cavalo, com toda a perfeição da arte, leva a vida a corrigir este defeito.” (D’Auvergne).

A propósito, se o seu cavalo tem as reações diametralmente opostas às aqui mencionadas, ele é um dos raros casos de um cavalo canhoto. Isto mesmo, eles existem! Forte abraço!

Fonte: www.mundoequestre.com.br